Eu tive muita sorte na vida. E muito azar.
Tive a melhor mãe que alguém poderia ter tido. E perdi, quando comecei a compreendê-la.
E eu não digo que ela era a melhor porque partiu. Ela era a
melhor porque nasceu para ser mãe e me proporcionou uma infância maravilhosa.
Sabe aquelas mães que ensinam aos filhos a gostar de arte,
poesia, literatura e a viajar pelo mundo sem sair de casa? Minha mãe era assim.
Sabe aquelas mães que nunca demonstravam cansaço e sentavam
no chão para brincar? Minha mãe era assim.
Sabe aquelas mães que sabem contar estórias e que fazem
dezenas de vozes diferentes, uma para cada personagem? Minha mãe era assim.
Sabe aquelas mães que esperavam os filhos dormirem para
preparar surpresas? Que pintava camisas de super-herois e personagens de
desenhos animados antes das lojas de departamentos venderem? Que montou sozinha
uma enorme casa de bonecas sem saber nada de marcenaria?
Sabe aquelas mães que cantavam para os filhos dormirem com
voz doce e suave? Sabe aquelas mães que amavam a Língua Portuguesa e a
Linguística e faziam as palavras serem tão fáceis ? Aquelas que ofereciam a mão
quando você estava na cadeira do dentista? Aquelas que faziam qualquer coisa
para lhe ver feliz? Aquelas que tornavam a atividade de mãe parecer tão
simples?
Sabe aquelas mães, que vendo os rebentos crescerem,
observava de longe vê-los fazer tudo errado? Aquelas que achavam legal os
filhos fazerem farra? Aquelas que amavam os amigos dos filhos como verdadeiros
sobrinhos? Aquelas que nem perguntavam onde a filha tinha passado a noite?
Aquelas que transbordavam sentimentos pelos companheiros dos seus filhotes?
Sabem aquelas mães que se importavam com a dor do mundo?
Aquelas que diziam que a maior contribuição de Jesus foi ensinar que devemos
amar uns aos outros, sem discriminação? Aquelas que nos mostraram que todas as
pessoas, por pior que possam parecer, sempre possuem um lado bom, bastando
procurar?
Pois é. Eu tive essa mãe que, logicamente, como todo ser
humano, tinha defeitos. Ela não sabia beber, não sabia tomar sorvete sem se sujar,
tinha pequenas implicâncias, nunca achava nada em sua bolsa (sempre derrubava tudo em algum balcão), conversava demais
e sempre deixava a mesma mensagem no meu celular: “Alessandra, é Lúcia, sua
mãe!”, cuidava demais da vida dos outros, não gostava de ir ao médico, vivia
sob um passado de glórias e riquezas, fumava (muito!), se deixava ser enrolada
pelos funcionários.
Porém o principal defeito era guardar tudo em seu coração,
que, um dia, não aguentou mais e parou.
E, de vez em quando, fecho os olhos e sinto a maciez de sua
mão segurando a minha, escuto a sua voz cantando e me lembro das últimas
palavras que ela disse, há exatos 10 anos, enquanto eu limpava o vômito de meu
filho mais velho e corria para pegar o elevador, grávida do segundo filho: “agora
você começou a me entender, né?!”
Que lindo! Todas nós somos mães perfeitamente imperfeitas, errando e acertando. Mas naturalmente seremos avós mais perfeitas que imperfeitas.....��
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